Caçador de concursos: uma nova profissão?

Na sociedade moderna, voltada para o consumo, percebemos que cresce de forma desenfreada a busca de alternativas para a tão desejada estabilidade, uma remuneração maior e uma posição de destaque no mercado de trabalho. Essa busca mostra o movimento das pessoas para obterem status social e inclusão em um meio, onde o grande valor está fixado na aparência, representada pelo carro que possui, o local de moradia e as roupas de grifes consumidas. É como se esta fosse a condição necessária para estar inserido nessa “sociedade do consumo”.

No passado, os valores eram outros. O que importava era a pessoa ser honesta, digna. Atualmente não escutamos mais isso nas conversas de grupos de amigos no trabalho ou fora dele. O que está em vigor é a posição que ocupa na sociedade, os bens materiais que possui. Hoje, você pode ter muitos valores, mas se não demonstrar ter uma boa condição financeira, pode acabar ficando segregado.

Em certo ponto é até compreensível essa busca desenfreada por uma remuneração mais elevada, já que o Brasil atravessa uma fase extremamente instável, gerando insegurança quanto ao futuro das pessoas, quanto à manutenção de sua saúde e de sua família, educação digna para os filhos, moradia adequada etc.

Surge, então, o concurso público como a “grande oportunidade” (quase “salvadora”), as pessoas vêem nele a possibilidade de crescimento rápido, de atingir seus ideais, de conquistar uma vida mais estável. Para isso, sacrificam-se, abdicam de sua vida social, esportiva, muitas vezes do convívio familiar e do lazer, utilizando todo o tempo disponível para estudar.

Com isso as pessoas passam a se isolar para estudar o máximo possível e com esta exclusão da vida, acabam ficando “mortificadas”, o que acarreta “lapsos de memória”, insônias, “dores” diversas e dificultando conseqüentemente, o aprendizado e o resultado positivo nos concursos. Desta forma, quando não são aprovadas, ficam desoladas, com a auto-estima baixa, sentindo-se culpadas, envergonhadas, impotentes, “desvitalizadas”. Isso tudo acarreta o surgimento de alguns sintomas como o desânimo, depressão, fobias, distúrbios alimentares etc.

Em prol desse ideal de ser incluído no mercado de trabalho a qualquer preço, as pessoas abrem mão de suas vidas. Em vez de tentarem se especializar na sua área, naquilo que têm afinidade, preferem tentar um concurso público, em que, muitas vezes, nem mesmo atuarão em suas áreas, podendo até mesmo trabalhar em postos que não lhes trazem prazer e realização profissional. Para manterem-se com a remuneração e posição e alcançadas, terão que fazer um sacrifício constante, já que não trabalham no que realmente de identificam.

O que também preocupa bastante os profissionais de recursos humanos é a situação do jovem neste cenário atual. O objetivo de concluir a faculdade hoje é somente para poder ter um curso superior e entrar no mercado da carreira pública. Sem mesmo ponderar e saber se é essa mesma a escolha que ele quer fazer. Em geral é uma decisão impulsiva e que não foi muito pensada. Quando fazemos orientação vocacional dos jovens e buscamos identificar alguma habilidade, alguma profissão com que admirem, e eles logo respondem: “até tem, mas isso não dá dinheiro, não quero falar sobre isto”.

Essa corrida também inclui as pessoas mais experientes, na faixa dos 40 anos, que vivem um momento um pouco mais difícil. Muitas vezes trazem uma história de vida com experiências mais árduas e, às vezes, não tiveram muitas oportunidades, até mesmo de estudar. Para elas também os concursos são a grande aposta pois sabem que as possibilidades são menores de se manterem no mercado de trabalho.

A ideologia Neoliberal (já que o mercado que regula tudo) é a que mais contribui para que as pessoas busquem uma alternativa como essa, abrindo mão de seus sonhos, vocações e habilidades. É importante reforçar, que cada um tem a sua escolha, que tem a ver com a sua própria história. Mas vale um alerta: não é sem conseqüências que se abre mão da própria singularidade, dos desejos e realizações. A inserção social feita de forma singular ajuda na manutenção da saúde física e psíquica.

Desta forma se tem mais entusiasmo para conquistar, construir e manter um lugar na sociedade, seja através de um concurso público específico na sua área de atuação ou pelos concorridos processos seletivos de empresas privadas.

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