O que empresas como Cargill, nos Estados Unidos, Samsung, na Coréia do Sul, BMW, na Alemanha e Gerdau, no Brasil, têm em comum? Além de serem grandes corporações em seus países, todas cresceram com base em uma forte identidade familiar.

As empresas familiares são o motor da economia mundial e, acredite, apresentam indicadores de performance e crescimento melhores do que empresas não familiares. Isso ocorre porque a família, enquanto proprietária da empresa, tem maior compromisso com o crescimento de longo prazo e com a transmissão do negócio às gerações seguintes.

Um exemplo desse compromisso é a maior propensão dessas empresas em reinvestir os lucros em detrimento da distribuição de dividendos. Além disso, empresas familiares são criadas e se desenvolvem a partir dos valores do fundador, que costumam pautar a produção e a relação com os stakeholders (clientes, fornecedores, empregados, comunidade).

Por outro lado, a mesma fonte de resiliência é um obstáculo à sustentabilidade ao longo das gerações. Com efeito, 30% sobrevivem à transição para a segunda geração e apenas 5% passam da terceira geração. Essa estatística pode ser atribuída à complexidade de sua governança, com a inclusão da variável família e toda a carga emocional nela envolvida. Outro fator a ser considerado é a informalidade e a pouca disposição em estabelecer práticas e procedimentos de negócios, que acabam gerando ineficiências e conflitos internos.

Compreender uma empresa familiar requer o conhecimento dos três sistemas que a constituem (família, propriedade e gestão) e as relações e os pontos de interseção entre eles. Além disso, é preciso considerar que cada um desses sistemas muda com o ciclo de vida da empresa, do estágio do fundador para o da sociedade de irmãos e deste para a fase do consórcio de primos. Portanto, podemos dizer que o grande desafio de uma empresa familiar é a perpetuação do negócio, através do fortalecimento dos laços afetivos e da preservação dos valores da família.

A riqueza de uma família empresária consiste no capital humano e intelectual de seus membros, na relação entre eles e na forma com que o capital financeiro é utilizado, pois esta é a ferramenta que os sustenta e os faz crescer.

A Coluna Família S/A estreia nesta edição e nela abordaremos, mensalmente, diversos aspectos importantes na vida de uma empresa familiar e de uma família empresária. Trataremos de temas como sucessão, coesão familiar, conflitos, governança da família, preservação do patrimônio familiar, desenvolvimento dos herdeiros e sócios, profissionalização e muitos outros assuntos. Acompanhe-nos nessa jornada!

 

Adriano Salvi
Conselheiro de administração certificado pelo IBGC, professor convidado da Fundação Dom Cabral e sócio da Vix Partners Governança Corporativa

Danielle Quintanilha Merhi
Psicanalista, especialista em empresas familiares, professora convidada da Fundação Dom Cabral e sócia da Vix Partners Governança Corporativa

 

NOTAS

Grande importância no PIB do Brasil

Empresas familiares respondem por 62% do PIB brasileiro e pela geração de mais de 60% dos empregos formais. Pesquisa realizada pela KPMG em 2016 atestou que, para 99% dessas empresas, os temas mais importantes para o sucesso do negócio familiar são a separação dos interesses do negócio e da família e uma governança estruturada.

 

Entre as mais antigas companhias do mundo

A história do capitalismo pode ser contada pelas lentes da família. O setor bancário se desenvolveu a partir dos Rotschild, a indústria automobilística surgiu e cresceu graças aos Ford. Algumas das companhias mais antigas do mundo são familiares até hoje, como o resort japonês Hoshi Ryokan, de 718, ou a vinícola toscanesa Antinori, de 1385.

 

Relações estão interligadas

Em uma empresa familiar, as relações pessoais e profissionais estão intimamente ligadas. A forma com que os membros da família se relacionam será possivelmente reproduzida no ambiente organizacional. Cuidar dos laços familiares é investir na continuidade do negócio através das gerações. – Do Livro “Famílias Empresárias… Vamos dialogar?”, de autoria da psicanalista Danielle Quintanilha Merhi, editado pela Qualitymark.

 

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